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quinta-feira, 7 de março de 2013

6. Mentiras políticas sobre a dívida... e a realidade

 
Quem viveu e vive, de fato, acima das suas possibilidades? Todos os povos, todas as nações do mundo, todos os seus governos?
 
Na Espanha, como em Portugal, a dívida pública era relativamente baixa e perfeitamente gerível até à crise financeira de 2008.

Observemos agora o estado das principais economias do ocidente face à dívida:

Tendo como referência 2010, podemos constatar que nas 10 maiores economias o rácio da dívida é de 348% do PIB. Outros países, os chamados BRIC, as novas potências económicas emergentes, apresentavam os seguintes rácios: China, 184%, Brasil, 148%, Índia 122% e Rússia 72%!
Aplicamos a esta realidade o discurso político conservador e liberal, o discurso político da austeridade, que justifica os acordos impostos pela Troika: Todos estes países, os seus povos e nações, incluindo a Alemanha, viveram e vivem acima das suas possibilidades, gastaram mais do que podiam e deviam, sobre todos os seus governos  paira o espetro  do socratismo, dos gastadores socialistas, até sobre a China, que salvou o mundo da bancarrota e o único exemplo virtuoso é, não os EUA, mas sim...a Rússia!?
Chegámos ao absurdo político e  económico!? Mas aproxima-nos da verdade: É uma impossibilidade económica que a comunidade de todos os países e nações do mundo  na sua globalidade deva mais do que o valor total dos seus PIBs!
Quem vive acima das suas possibilidades é o sistema financeiro mundial desregulado  e fora do controle dos estados, da justiça e da democracia, que criou para si próprio um valor artificial de triliões de dólares e de euros, realizando o absurdo económico.
Questionamo-nos de de novo: como é que os títulos financeiros, esses obscuros "produtos derivados", esse papel moeda despejado diretamente das rotativas dos EUA ou da Inglaterra para o mercado, podem valer várias vezes o valor do PIB, se este exprime precisamente o valor total e real da economia produtiva no mercado?
A "bolha financeira" apropriou-se do mercado mundial, das hipotecas das habitações até à dívida soberana e rebenta ciclicamente onde levou longe de mais o seu artifício financeiro e a sua incomensurável manipulação do mercado.
 
 
O mito da confiabilidade dos mercados financeiros
 
 
Segundo o relatório do Banco de Portugal os bancos portugueses reduzem cada vez mais o crédito às famílias e empresas, incluindo os setores exportadores e continuam a orientar o seu negócio para a compra da dívida pública nacional, ao adquirirem mais sete mil milhões de euros só no primeiro trimestre de 2012, atingindo assim um valor e um risco de 29,7 mil milhões! Ora o conjunto do valor das ações bolsistas dos bancos privados não chega a valer hoje sequer 3 mil milhões!? Eis uma tendência transversal à zona euro nos últimos meses, com os bancos a aproveitar o excesso de liquidez oferecidos pelos leilões do BCE para adquirir ativos com elevadas taxas de juro. Os bancos privados conseguem financiamento a 1% e aproveitam os rendimentos ( ‘yields') dos títulos de dívida pública que, no caso português, rondam os 12%. Mas os bancos nacionais, como a CGD, não têm aquele direito, por força da legislação comunitária!
 
 
A City londrina
 Um dos paraíso fiscais é a City em Londres. Em 1980 o governo conservador inglês legislou para que os seus bancos e sociedades financeiras se autorregulassem, à margem do estado e do direito. Os trabalhistas de Tony Blair, vitoriosos em 1997, mantiveram esta situação. Da longa sequência de escândalos financeiros, salientemos o que nos dá a primeira chave para entender como se manipula o mercado financeiro: o Barclays surge no centro do escândalo de manipulação das taxas LIBOR_ que regulam as transações financeiras: o seu presidente Bob Diamont fica sob investigação judicial, o banco é multado  em 450 milhões de dólares  e a desconfiança sobre a manipulação, no sentido da sua elevação artificial, estende-se ao painel de 18 bancos ocidentais que a fixam em regime de autorregulação, desde o Bank of America , Bank of Tokio-Mitsubichi, USB, BNP Paribas, Deustche Bank…( Fonte: Times)


 As agências de rating
 
A segunda chave está na natureza e papel das agências de rating. O governo federal americano acusou a agência de rating  Standart & Poor´s de fraude, em relação á crise financeira de 2008,  sim, a mesma empresa que o atual primeiro-ministro cita orgulhosamente pela reclassificação da dívida pública nacional. Vejamos a acusação, segundo o jornal New York Times, de February 4, 2013:
"The Justice Department filed civil fraud charges late on Monday against the nation’s largest credit-ratings agency, Standard & Poor’s, accusing the firm of inflating the ratings of mortgage investments and setting them up for a crash when the financial crisis struck....From September 2004 through October 2007, S.&P. “knowingly and with the intent to defraud, devised, participated in, and executed a scheme to defraud investors” in certain mortgage-related securities...The case against S.& P. focuses on about 40 collateralized debt obligations, or C.D.O.’s, an exotic type of security made up of bundles of mortgage bonds, which in turn were composed of individual home loans. The securities were created at the height of the housing boom. S.& P. was paid fees of about $13 million for rating them..."
Os bancos e sociedades fianceiras controlam as Agêncicias de Rating e pagam-lhes fortunas para favorecer os seus negócios.Prossegue o jornal:
"A Senate investigation made public in 2010 found that S.& P. and Moody’s used inaccurate rating models from 2004 to 2007 that failed to predict how high-risk mortgages would perform; allowed competitive pressures to affect their ratings; and failed to reassess past ratings after improving their models in 2006.
The companies failed to assign adequate staff to examine exotic investments, and failed to take mortgage fraud, lax underwriting and “unsustainable home price appreciation” into account in their models, the inquiry found.
“Rating agencies continue to create an even bigger monster — the C.D.O. market,” one S.& P. employee wrote in an internal e-mail in December 2006. “Let’s hope we are all wealthy and retired by the time this house of card falters.”
 
Concluimos: Sem o fim dos paraísos fiscais; sem novas agências de rating controladas institucionalmente pelos orgãos legítimos da comunidade internacional; sem uma moeda universal, com um valor sustentado na economia produtiva, a catástrofe financeira continua a lavrar sob os nossos pés e a preparar o abismo para a economia de mercado, sim, para a economia de mercado, que afirma defender, enquanto a economia socialista de mercado, mais ou menos desenvolvidsa, apresenta uma singular resiliência, da China ao Vietname, da América Latina à África....

 À beira da crise geral nacional
 
E chegamos à terceira chave, de carater político: Em Portugal, é tempo de avaliar os resultados da privatização da banca e das privatizações que retiraram ao estado democrático o controle dos sectores fundamentais da economia, colocando na roleta do mercado internacional os recursos fundamentais: energia, combustíveis, comunicações...que pertencem agora aos novos monopólios e cartéis, proibidos pela Constituição e pelas Leis da República, recursos que são fatores de competitividade e rentabilidade indispensáveis para recuperar a economia das empresas, das famílias e do setor estatal.
O (s) governo (s) vendeu o que gerações de trabalhadores, técnicos e administradores portugueses contruiram com a sua inteligência, saber e suor, ao longo de gerações.
É tempo  de relembrar aos líderes do PSD e CDS que a anterior política de governo do PS foi sempre por eles apoiada e referendada, quando aprovaram e viabilizaram os orçamentos do estado. Que, pela herança política deste passado recente são igualmente responsáveis, mas sobretudo, pela crise geral nacional que se avizinha.
A demissão do governo e  a realização de eleições antecipadas é a última oportunidade para evitar a crise geral nacional, deveria percebê-lo o Presidente da República.
A autodemissão de ministros e secretários de estado, deputados, presidentes e vereadores, líderes locais e militantes... também pode contribuir para a queda urgente do governo e salvar ainda estes partidos, como partidos nacionais e democráticos.
Porque chegamos ao ponto em que uma só faísca pode incendiar a revolta e suscitar um novo levantamento popular e nacional: um ato violento do governo contra as manifestações pacíficas; um ato de subversão governamental contra a independência dos tribunais e do Tribunal Constitucional em particular; o esgotamento dos recursos solidários das famílias, das instituições de solidariedade social e religiosas; o desespero dos suicidas que perdem o emprego, a casa, a saúde e o pão; a ruina e abandono dos concelhos e das freguesias; a morte precoce dos nossos mais velhos; a afronta e provocação de novos escândalos financeiros, de negócios ou até dos discursos dos ricos e poderosos, e dos burocratas sem coração que mandam na Europa e em Portugal....poderão levantar a maré humana e  lançá-la contra os centros do poder, trazendo consigo a marginalidade social. Nenhuma vanguarda existe hoje para liderar pacífica e democraticamente esta revolta latente.
Ao lado do povo alinharão as forças policiais democratizadas e conscientes dos seus direitos de cidadania, que o governo julga poder utilizar como último recurso e  tropa de choque; os seus comandantes deverão saber que  as  forças armadas democráticas e patrióticas não se deixarão utilizar como guarda pretoriana e  livremente se comprometeram a defender o seu povo .
 
Servir a troika e servir-se a si próprios, não é mandato nem dignidade de quem governa. Basta.
 
 
 
 

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